Cracolândia
Menino sem luz
Levando a cruz da fome
Na escuridão das ruas
Nas perdições
Se drogando
Para fugir do mundo
Sem futuro
Escravos das drogas
Que lhes roubam a vida
E os deixam dementes
Vegetando em um universo
Sem volta
A morte nos ama
A vida nos ama e odeia
A mente humana
É uma babel
Como a torre
Construída por D'us
O humano
É um desencontro com cristo
Que o aguarda de braços abertos
Vive construindo seus castelos
De ouro e poder
Perdidos
Do outro lado da rua
Existe uma flor
No outro lado do universo
Há a musa do poeta
Que anda perdido em versos
O meu mundo desvairado
Nunca irá acabar
Vivo eternamente
Passando por transformações
Reaja com a luz do dia
E das noites de luar
A canção não pode parar
Os políticos estão a plantar
A fome, a miséria
E assim criando a violência
Com sua sede de poder
As lagrimas das crianças de rua
Rolam no asfalto
Da Praça da Sé
Elas tem fome
E não tem onde morar
Os descasos dos governos
As fazem roubar, se drogar
Seus pais não têm emprego
Para trabalhar
E a classe média
Vive suas mãos de Pilatos a lavar
Não querendo uma solução encontrar
Queremos mais emprego
O povo precisa trabalhar
Os alugueis andam caros
Não temos onde morar
Chora o menino
De fome na calçada
Os garotos da classe média
Incendeiam mendigos
Por lazer
O trabalhador
Não tem terra para plantar
Os grileiros, milhares
De alqueires estão a estragar
Nas cidades e no campo
Homens, mulheres e crianças
Sem terra
Sem casa
Sem comida
Estão a lutar
Eles querem só
Um pedaço de chão
Para morar, trabalhar
Em minhas praias
Tem coqueiro.
Nem água de coco posso tomar
Em meu país
Tem muitas terras
Eu não posso plantar
Fujo para o meu mundo
Para não deixar a musa minha
Me conquistar
O sol distante
Me vem iluminar
Crianças peraltas
Correm pela rua, a brincar
No radio as noticias do dia
Começam a rolar
Eu queria apenas
Lhe acariciar
Tocar seu corpo
Profundamente te amar
O vento frio da manha
Bate em meus cabelos
Aqui na minha varanda
Vejo distante a cidade universitária
Os vizinhos ao lado
Tocam um disco de Berimbau
E jogam capoeira no quintal
Meu coração não e uma flor,
Nas mãos de um jardineiro.
Mas dentro dele
Há uma sementinha
Que pode me fazer
Morrer de amor
Toda tarde brilha
O sonho de querer buscar
E viver renascendo eternamente.
Eles têm medo da verdade
São eleitos meliantementes
Querem ser donos
Dos pensamentos alheios
Incentivam a indústria da miséria
Hoje é noite de poesia
E de encontrar você
Você sorrindo para as estrelas
A lua levanta nossos olhos
Eu me encanto ao ver
Seu sorriso
Seu jeito de mulher
Baleia
Sereia
Repente
De repente
Correria
Fria
Ser
O ser
Frio
Na beira
Do rio
A menina do carrão
Cor de prata
Esbugalhou os olhos
Do menino da favela
Que a achou linda e bela
O menino se apaixonou loucamente
A menina distante, o esnobou
Queria ela o príncipe
Da mansão do Morumbi
E o menino foi tocando
Sua pobre vida
Trabalhando e sonhando
Em um dia ser rico e rei
Conquistar a menina
Do carro cor de prata
Há cuíca e pandeiro
Em meu carnaval
Tem palhaços, trapezistas e picadeiro
Mulatas nuas
Do Anhembi ao Sapucai
Turistas gringos
Em seus sambas desastrados
Há os gaviões, a Vai-Vai e a Mangueira Verde-Rosa
Balançando corações
Trio elétricos na Bahia
Arrastando multidões
Meu Brasil explode
De alegria e orgia
Há Caetano,Gil, Daniela Mercuri
E o povo em embriaguês
O rei Momo comanda a alegria
E eu admirando a miss
Imaginando um dia
Ser seu príncipe
Foda-se
Foda-se
Se você é rico ou doutor
Sou da rua
Da favela
Não tenho emprego
Nem escola posso freqüentar
Sou um menino
Sujeito ao vicio da cola
Sem um futuro
Que dorme nas marquises
Dos edifícios,
Quando não deixam
no barraco que moro entrar
Talvez um dia
eu morra nas mãos da lei
em minha luta pela sobrevivência
A sociedade me da as costas
e chuta meu traseiro
Menino pobre é sub-raça
Vira ameaça
E não tem lugar para participar
Do progresso dessa humanidade
Desumana

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